Dia 318 de 365
Leitura do dia:
Ezequiel 1: A visão da glória
Ezequiel 2: Comissionamento do profeta
Ezequiel 3: O rolo e a responsabilidade
Introdução:
Os capítulos iniciais do livro de Ezequiel preparam o cenário para a poderosa e muitas vezes chocante mensagem do profeta, estabelecendo sua autoridade, seu chamado e a natureza divina da sua missão. Começando com uma visão impressionante da glória de Deus e dos seres celestiais à beira do rio Quebar, Ezequiel é confrontado com a majestade transcendente de Deus, o que o capacita a receber seu comissionamento. Esta introdução não é apenas um relato biográfico, mas uma teofania que santifica Ezequiel para a difícil tarefa de falar a uma nação rebelde e cativa, sublinhando que sua mensagem não é sua, mas sim a palavra direta do Soberano Senhor.
Resumo:
Ezequiel 1:
O capítulo 1 descreve a visão inaugural de Ezequiel, uma das passagens mais complexas e vívidas da Bíblia. A visão ocorre no quinto ano de exílio, às margens do rio Quebar, e tem como objetivo primário revelar a glória (Kavod) e a soberania de Deus, que não está restrita ao Templo em Jerusalém, mas que se move com Seu povo, mesmo no exílio. A cena é dominada por quatro seres viventes (querubins ou seres angelicais), cada um com quatro rostos (homem, leão, boi/carro e águia), simbolizando inteligência, domínio, poder e rapidez, e quatro asas, cheios de olhos, representando a onipresença e oniscência de Deus. Ao lado deles estão as rodas (Ofanim), uma dentro da outra, que se moviam em qualquer direção sem girar, indicando a liberdade de movimento e a providência incontrolável de Deus. Acima dos seres e das rodas está um firmamento semelhante ao cristal, e sobre ele, um trono de safira, onde se senta uma figura com a aparência de um homem, cercada por um brilho de arco-íris, que é a manifestação da glória de Deus. Esta visão estabelece a autoridade esmagadora de Ezequiel como profeta.
Ezequiel 2:
Neste capítulo, ocorre o comissionamento formal de Ezequiel. Deus se dirige a ele repetidamente como "Filho do homem" ($ben-\text{'adam}$), uma expressão que enfatiza a natureza mortal e dependente do profeta em contraste com a majestade divina que ele acabou de testemunhar. A tarefa de Ezequiel é falar a palavra de Deus a Israel, descrita como uma nação rebelde, de face dura e coração obstinado (vs. 3-7). A ênfase é colocada na obediência incondicional do profeta, independentemente da resposta do povo. Quer o povo ouça ou deixe de ouvir, eles saberão que houve um profeta entre eles (v. 5). O profeta é advertido a não ter medo das palavras e olhares de desprezo deles, comparados a espinhos e escorpiões, reforçando a natureza hostil do seu ministério.
Ezequiel 3:
O comissionamento continua com a ingestão do rolo. Deus apresenta a Ezequiel um rolo de pergaminho escrito na frente e no verso com lamentos, gemidos e ais (v. 10), e o instrui a comê-lo para que ele possa falar ao povo de Israel (v. 1). O ato de comer o rolo simboliza a internalização completa e a assimilação da Palavra de Deus; a mensagem deve se tornar parte do seu ser antes que ele a proclame. Surpreendentemente, o rolo, embora cheio de palavras de julgamento, é doce como o mel na boca do profeta, sugerindo que a Palavra de Deus é, em si, nutritiva e desejável, mesmo quando contém mensagens duras. O capítulo também apresenta a responsabilidade do atalaia (vs. 16-21). Deus estabelece Ezequiel como o vigia de Israel, responsável por advertir o ímpio de seu caminho. Se Ezequiel falhar em avisar, o sangue do ímpio será requerido de suas mãos; se ele avisar e o ímpio não se arrepender, a culpa será do ímpio. A partir do versículo 22, Deus impõe um silêncio temporário ao profeta, que só será quebrado quando Deus o instruir a falar, limitando seu discurso apenas às palavras divinas.
Aplicação para os dias atuais
A experiência de Ezequiel é profundamente relevante hoje em dia, pois nos lembra da soberania transcendente de Deus e da nossa responsabilidade em responder ao Seu chamado. A visão do capítulo 1 nos ensina que Deus não está confinado a locais ou circunstâncias, mas Sua glória e providência estão ativas mesmo em nossos "exílios" ou momentos de dificuldade. Isso nos encoraja a buscar Sua presença em qualquer lugar. O comissionamento (Cap. 2 e 3) nos desafia a ser obedientes e corajosos ao compartilhar a verdade, mesmo que ela seja impopular ou receba resistência. Assim como Ezequiel comeu o rolo, somos chamados a internalizar a Palavra de Deus em vez de apenas lê-la superficialmente, permitindo que ela mude nossa perspectiva (doce na boca) antes de falarmos sobre ela. Finalmente, o papel do atalaia sublinha que, como seguidores de Cristo, temos a responsabilidade ética de advertir e guiar uns aos outros com amor e verdade, entendendo a seriedade de nossa influência e testemunho no mundo.
Reflexão:
Os três primeiros capítulos de Ezequiel são uma reflexão profunda sobre o chamado profético e a natureza de Deus. Eles começam com a glória impressionante de Deus, que é móvel e onipresente, quebrando a ideia de que Deus estava preso ao Templo. Essa visão de Sua majestade serve para humilhar e capacitar o profeta, lembrando-o de que sua força reside na fonte da sua mensagem. O contraste entre o "Filho do homem" (a fragilidade humana) e a glória divina (o poder inigualável) é crucial. A relutância do povo em ouvir não anula o chamado; a fidelidade não é medida pelos resultados, mas pela obediência em proclamar a mensagem, mesmo que seja dura e cheia de "lamentos, gemidos e ais". O princípio do atalaia é o ponto culminante, pois transforma o profeta de mero mensageiro em uma sentinela com responsabilidade moral, destacando a seriedade e o custo de ser porta-voz de Deus.


